RESENHA - CRESCENDO ENTRE AUSÊNCIAS - PEQUENA COREOGRAFIA DO ADEUS - ALINE BEI



CRESCENDO ENTRE AUSÊNCIAS -  PEQUENA COREOGRAFIA DO ADEUS - ALINE BEI
Imagem retirada do Google
 

Classificação: ★★★★★


Em pequena coreografia do adeus, da escritora Aline Bei, conhecemos Júlia, filha de pais “problemáticos”, vivendo em um lar caótico. A história é narrada a partir da infância da menina, e assim conhecemos sua realidade contada por ela, até sua vida adulta.

O livro retrata o peso que as mulheres carregam após o abandono conjugal, o peso para Vera, mãe de Júlia, era tanto que ela acabava por agredir com ainda mais frequência a filha. O peso para Júlia, já era outro, era o peso da saudade e da incompreensão. Já para Sérgio, o pai, não tinha peso algum, apenas a liberdade de poder seguir a vida sem nenhum impedimento, tanto que Júlia, sempre relata as várias namoradas do pai, e o quanto ele parecia mais leve e feliz, após o abandono do lar.

 Aline retrata com clareza, questões como abandono afetivo paterno, que é uma realidade latente no Brasil, de acordo com dados do IBGE, em 2009 , das famílias brasileiras, cerca de 17,4% são constituídas de mães solteiras.  O livro evidencia que mesmo tendo contato regular com o pai, ainda assim o mesmo não é capaz de ser afetivo ou presente na vida da filha.

A menina vai crescendo tendo que lidar sozinha com a questão do abandono do pai, e “raiva” constante da mãe que vive a agredindo, além disso Júlia não tinha com quem compartilhar toda essa enxurrada de sentimentos, diante disso, após enfrentar algumas provocações na escola, e por não saber lidar com tudo, Júlia acabou sendo agressiva com colegas da escola.

Durante a leitura, podemos ver o quanto a personagem é solitária, recebe “migalhas” de afeto dos pais, e por mais que tentasse criar qualquer tipo de vínculo, eles ainda viviam alheios à ela, cada um vivendo sua individualidade.

Júlia busca refúgio na escrita, não abandona seu diário, nele consta todo o seu desabafo da vida, ali ela confidencia toda sua confusão, se tornando aos poucos uma escritora. Na fase adulta a jovem passa a se dedicar a um pequeno conto, e neste há um pouco de suas vivências também, mesmo que de forma indireta.

Após adquirir independência financeira a jovem decide sair de casa, visto que a relação com a mãe estava piorando, e deste ponto em diante, conseguimos ter um vislumbre de uma Júlia, ainda com algumas preocupações e receios, porém agora ela pode ser ela mesma e se conectar com outras pessoas.

Neste ponto do livro conseguimos ver o amadurecimento da jovem, e sentimos um pouco de pesar por Júlia não ter conseguido viver tudo o que merecia. A escritora Aline Bei, consegue nos mostrar o quanto um lar mal estruturado é capaz de nos moldar, quando Júlia é questionada sobre sonhos e aspirações, a jovem não consegue dizer, isto reforça o quanto a falta de incentivo familiar afeta as nossas decisões e projetos, claro que em algum momento a jovem percebe sua relação com a escrita e isso acaba por ser, agora, sua aspiração.

O livro é bem escrito, com uma leitura bem fluida, traz uma gama de sentimentos ao leitor, e ainda uma vontade de saber mais sobre a jovem escritora.



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