Resenha: Redemoinho em Dia Quente de Jarid Arraes – Literatura Contemporânea e Questões Sociais
REDEMOINHO EM DIA QUENTE
Esse livro traz à tona questões de difícil abordagem não só no Brasil, mas em todo o mundo, a escritora, poeta e cordelista Jarid Arraes, permite que o leitor vivencie e sinta na própria pele o que cada uma das personagens sentiram. Redemoinho em dia quente é de uma riqueza em detalhes tão incríveis e transformadores que é possível por meio da leitura conhecer e visualizar cada cenário dos contos, nos trazendo um sentimento de empatia e amor pelas mulheres da história.
Diante de um livro tão magnífico é possível estabelecer uma comparação entre a escritora Jarid e a pintora Frida Kahlo, é nítido nas obras delas que o objetivo é levar uma mensagem para a sociedade, as duas por meio de suas artes expuseram o que cada qual viveu em suas vidas, ambas exploraram questões sociais em suas obras; o livro nos mostra todas as dores que as mulheres sentem, entretanto nos mostra também a força e a luta diária de cada uma.
No livro é possível observar em alguns contos uma quebra de paradigmas sobre questões a respeito do que uma mulher pode, ou não fazer, contrária à visão da ministra da mulher, família e direitos humanos Damares Alves, que acredita que estamos em uma nova era e "meninas usam rosa, e meninos usam azul”, Jarid traz em seu livro que não se deveria estabelecer quais devem ser as atividades de meninas e meninos, isto é, mulher ser mototáxi não é trabalho apenas para homens e que meninas podem “pegar bigu” , brincar de carrinho e outras coisas mais, evidenciando assim, que a pauta levantada pelas mulheres com relação a luta pela igualdade, é totalmente relevante, tendo em vista, que a perspectiva da Ministra foi aplaudida por inúmeros brasileiros, evidenciando assim, que as meninas antes mesmo de nascer já tem pré-estabelecido a cor que devem preferir.
Além disso, recentemente, ocorreu em Bruxelas uma exposição com o nome :” A culpa é minha?” onde estavam expostas as roupas que vítimas de estupro usava no momento do ato, nesta exposição continha pijamas de crianças e diversas outras peças que descaracterizaram a “sedução das vítimas” com relação aos abusadores. Jarid nos traz a mesma reflexão com relação a isso, em um conto onde ela nos mostra a história de “Juliana” uma adolescente apaixonada por um garoto da vizinhança, e em certa noite quando já estava em seu quarto prestes a dormir, quase foi estuprada pelo próprio pai, a garota, vítima, inocente, teve que continuar a conviver com um potencial estuprador, e além do mais, perdeu amigas porque as mães das mesmas acreditavam que no fundo Juliana tinha uma parcela de culpa, com isso, a escritora nos mostra que os abusadores, não todos, mas muitos deles estão na casa das vítimas, e muitas das vezes elas são consideradas culpadas.
Pode-se observar, portanto, que as mulheres passam por situações como as anteriormente citadas cotidianamente, mas nem por isso desistem de quem elas são, esses problemas as edificam e as amadurecem, mesmo que elas passem por preconceitos devido a orientação sexual, idade, cor da pele, coisas que gostam de fazer, entre outras coisas elas não desistem, se submetem a trabalhos ruins, tomam decisões difíceis e é isso que as torna tão espetaculares, suas escolhas. Cada mulher do livro se encaixa com a personalidade das leitoras, os contos falam intimamente com cada uma de nós. Redemoinho em dia quente veio para “bagunçar” a sociedade atual, e levantar questionamentos acerca do valor da mulher nos tempos modernos.
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